Quais são os tipos de agricultura urbana e onde podemos encontrar produção de alimentos nas cidades
A produção de alimentos no mundo tem imposto um alto custo ao meio ambiente e à saúde das pessoas. A questão que está no ar é: como iremos nos alimentar em um futuro próximo sem exaurir nossos recursos e de forma a nos nutrir adequadamente? As respostas passam por entender a necessidade de mudanças nos sistemas alimentares, que envolvem atividades desde a produção até o consumo. Aproximar a produção do consumo e aumentar a diversidade da produção são estratégias que compõem a solução. No meio urbano, onde vive a maior parte da população brasileira, a valorização da agricultura urbana é um caminho para a transformação desses sistemas.
Mas afinal, o que diferencia essa agricultura de outras? O que caracteriza a agricultura urbana? Existe apenas um formato? Vamos falar um pouco sobre isso.
Ao iniciar a reflexão, já é possível constatar que os desafios de plantar alimentos dentro das cidades, em áreas mais centrais, são distintos dos desafios enfrentados na produção em suas periferias. Mas tudo faz parte do que estamos chamando de agricultura urbana?
Toda a agricultura que possui forte relação com a área urbana, utilizando-se de seus recursos humanos e materiais e também oferecendo recursos para essa mesma área pode ser considerada agricultura urbana. Mougeot (2000)
Indo além, onde então podemos plantar alimentos? Tem espaço para isso? Deve sair caro arrumar um terreno pra produzir hortaliças… Mas também existem as soluções que vimos por aí, salas fechadas com iluminação e tecnologia, plantar em paredes, canos de pvc, caixotes, isopores ou qualquer solução “faça você mesmo” para otimizar os espaços…
E quem são esses agricultores urbanos? Será que são pessoas que já tiveram contato com o campo? Aqueles que têm família na roça. Ou são pessoas que nunca plantaram uma salsinha antes de se envolverem no assunto?
Quando pensamos em agricultura urbana, portanto, lembramos destes fatores únicos como o limitado acesso à terra, meios alternativos de cultivo e envolvimento de agricultores não tradicionais, por exemplo (PFEIFFER; SILVA; COLQUHOUN, 2014).
Apesar de identificarmos essas características comuns, a agricultura urbana não é homogênea. Podemos encontrar diversas formas de organização de seus participantes, diversas formas de trabalho, encontrar comercialização ou não dos produtos, escalas de produção diferentes e, claro, funções primárias diferentes. Podemos encontrar, inclusive, tipos mistos, que combinam formatos e objetivos variados.
Os professores Eduardo Caldas e Martin Jayo (EACH - USP), em 2019, disseram que as experiências em São Paulo também podem ser separadas em dois tipos: “Pavê” e “Pacumê”. Parece piada, mas é pesquisa, e agora vocês podem inovar na mesa de família ao levar uma saladinha cultivada localmente.
A agricultura urbana “pacumê”, também chamada de agricultura urbana “de escala” é voltada à produção de alimentos, em maiores volumes, e está situada, principalmente, nas regiões periféricas. Já a agricultura urbana “pavê” ou “de visibilidade”, apesar de também produzir algum volume de alimento, dedica-se mais à produção de discursos, consciência ambiental e visibilidade para a agenda política da agricultura urbana. Esta modalidade está mais presente em regiões centrais da cidade.
Para ilustrar tanto aquelas mais “pavê” ou as mais “pacumê”, utilizaremos aqui o levantamento de Biazoti (2020) e daremos alguns exemplos. Podemos encontrar os seguintes tipos de agricultura urbana: de guerrilha, hortas comunitárias, hortas institucionais, quintais produtivos, fazendas urbanas, loteamentos, agricultura familiar e empreendimentos agrícolas.
Jardinagem de guerrilha
Função primária: Ativismo, ocupação de espaços públicos, criação de paisagens comestíveis
Organização: Ocasional, em coletivos
Forma de manejo e trabalho: Individual, coletiva ou comunitária
Escala de Produção: Canteiros, vasos e pequenas áreas
Comercialização: Inexistente
Exemplos: Horta das Corujas - Vila Madalena (fotos 2 e 3), Jardim da Gratidão - Aclimação (foto 1)
Hortas comunitárias
Função primária: Produção para autoconsumo, ativismo, ocupação de espaços públicos, segurança alimentar e nutricional, comunidade, venda ocasional.
Organização: Coletivizada, Associações ou Cooperativas
Forma de manejo e trabalho: Coletiva ou comunitária
Escala de Produção: Canteiros, lotes, estufas
Comercialização: Ocasional
Exemplos: Horta da Saúde - Saúde (Foto 1), Mulheres do GAU - São Miguel Paulista (Foto 2), Horta Popular Criando Esperança - Vila Nova Esperança (Foto 3), Horta das Flores - Mooca.
Hortas Institucionais
Função primária: Produção para autoconsumo, doação, educação, reabilitação, capacitação e treino, venda ocasional
Organização: Institucional ou Governamental
Forma de manejo e trabalho: Individual, coletiva ou comunitária, a partir de uma orientação institucional
Escala de Produção: Canteiros, lotes, vasos, estufas e pequenas áreas
Comercialização: Rara
Exemplos: Horta da FMUSP - Clínicas (Foto 1 ), Horta da UNIFESP, Horta Cores e Sabores - Capão Redondo (Foto 2) , Horta do Shopping Eldorado
Quintais produtivos
Função primária: Produção para autoconsumo, recreação, paisagem, doação
Organização: Inexistente
Forma de manejo e trabalho: Individual ou doméstica
Escala de Produção: Canteiros, vasos e pequenas áreas
Comercialização: Mínima
Exemplo: Horta do ArboreSer - Zona Norte
Fazenda ou horta urbana
Função primária: Produção para autoconsumo, produção para venda, segurança alimentar e nutricional, abastecimento
Organização: Inexistente, Associações ou Cooperativas, Governamental
Forma de manejo e trabalho: Individual ou coletiva
Escala de Produção: Canteiros, áreas de médias a grandes
Comercialização: Frequente
Exemplos: É Hora da Horta - Zona Norte, Urban Farm Ipiranga
Loteamentos
Função primária: Produção para autoconsumo, doação, venda de excedente, segurança alimentar e nutricional
Organização: Associação, Cooperativa ou Governamental
Forma de manejo e trabalho: Individual de cada lote, comunitária ou coletiva
Escala de Produção: Canteiros, lotes e parques
Comercialização: Ocasional
Agricultura familiar
Função primária: Produção para autoconsumo, produção para venda, abastecimento
Organização: Inexistente, Associações ou Cooperativas
Forma de manejo e trabalho: Individual ou familiar
Escala de Produção: Parcelas grandes de produção, estufas, áreas arrendadas
Comercialização: Frequente
Exemplo: Nossa Fazenda - Parelheiros
Empreendimento agrícola
Função primária: Produção para venda, abastecimento
Organização: Associações, Cooperativas ou Instituições
Forma de manejo e trabalho: Relações capitalistas de produção
Escala de Produção: Parcelas grandes de produção, estufas, áreas arrendadas
Comercialização: Sempre
Exemplos: Fazenda Cubo - Pinheiros, Pink Farms - Vila Leopoldina, Urban Farm Ipiranga (Foto)
Legal é descobrir essas diferentes formas de plantar alimentos dentro da sua cidade. Onde você identifica essas práticas? Quem são as pessoas envolvidas? Como você pode participar ou apoiar? Este é o momento em que cada um precisa e pode encontrar seu lugar nessa mudança. Referências
BIAZOTI, A. R. Engajamento político na agricultura urbana: a potência de agir nas hortas comunitárias de São Paulo. 2020. Dissertação (Mestrado em Ciências). Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2020
CALDAS, E. L.; JAYO, M. Agriculturas urbanas em São Paulo: histórico e tipologia. Confins: revue franco-bresilienne de geographie/revista franco-brasileira de geografia, Marseille, v. 39, p. 01-11, 2019.
CALDAS, Luíza Costa. O papel do capital social e das redes sociais na agricultura urbana em São Paulo. 2021. Dissertação (Mestrado em Sustentabilidade) - Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2021. doi:10.11606/D.100.2021.tde-14022022-123539. Acesso em: 2023-02-04.
MOUGEOT, L. Agricultura Urbana: Conceito e Definição. Revista de Agricultura Urbana, n. 1., p. 8-14, 2000.
PFEIFFER, A; SILVA, E.; COLQUHOUN, J. Innovation in urban agricultural practices: Responding to diverse production environments. Renewable Agriculture and Food Systems, v. 30, n.1, p. 79–91, 2014.
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